domingo, 12 de março de 2017

Avaliação de cenário como posicionamento estratégico.

Na terça-feira da semana passada, fui participar do café da manhã com meu Si Fu em uma padaria dentro do Condomínio onde ele mora. Cheguei ao local com cinco minutos de atraso, o que é muito ruim, afinal a presença do Si Fu deve ser aproveitada ao máximo, para que se possa ouví-lo por todo o tempo que ele disponibilizou, e aprender com isso.

Café da manhã com Si Fu. Na foto três discípulos: Carlos Antunes está ao lado do Si Fu que tem à sua frente  Pedro Corrêa,  ao lado de Rodrigo Moreira.

Atrasado, passei pelo salão da padaria indo direto à varanda onde, habitualmente meu Si Fu junta-se a nós para o café  . Ele não estava lá. Ao pegar o telefone para fazer contato notei que estavam em outra mesa, na parte interna da padaria.

É importante que a vivência marcial traga para o To Dai (aluno) uma experiência significativa, e esta não foi diferente. Horas depois, meu Si Fu chamou-me a parte quando já estávamos no Mo Gun  e disse: "Roberto, quando você chega em algum lugar, o olho deve chegar primeiro".

São nas atividades comuns da vida que perdemos mais facilmente o grau de atenção que temos, seja no trânsito, no trabalho, em casa, etc.  Avaliar o cenário, "o olho chegar primeiro" é fundamental para que nossas ações sejam revestidas de uma excelência estratégica.

O Kung-Fu aflora a partir de uma necessidade, os cenários assim como a vida, mudam constantemente, sendo necessário a capacidade de adaptação, não havendo técnica infalível ou uma sequência de treinamentos capaz de gerar o completo desenvolvimento humano, mesmo porque este é um processo contínuo, e como ninguém atinge a perfeição, será sempre um processo inacabado.

  Mestre Senior Julio Camacho ministrando palestra sobre Introdução ao Sistema Ving Tsun. Núcleo Barra da Tijuca, ano 2016.


 A capacidade avaliativa do cenário é fundamental para qualquer pessoa, em qualquer momento e área da vida, e o praticante de Ving Tsun encontra na experiência marcial a oportunidade de avaliar o cenário sob pressão através do combate simbólico. Importante ressaltar aqui que o termo combate simbólico se refere a uma experiência corporal significativa. É oposto ao termo combate real, este levado até a morte, reprovado socialmente, além de ser óbvio não fazer sentido dentro de uma proposta de desenvolvimento humano, onde todos crescem juntos.

Chi Sau: com os braços aderidos, o praticante desenvolve a percepção através dos estímulos que fornece e recebe, desenvolvendo uma reação atenciosa e avaliando sua escolha em um cenário no qual está sob constante pressão.


Com a avaliação do cenário vem a reação, o que não significa aqui se opor ou resistir à uma ação. Segundo a lógica chinesa, reagir é aceitar o que vem para daí então, avaliar a ação. Não há resistência no sentido de ir contra, mas no sentido de se ter uma atenção ao que está a volta, dentro de um cenário em que se encontra inserido.

A fase Sau corresponde  a esta aceitação e assimilação de cenários, e está presente na primeira triologia do Sistema Ving Tsun, composto por Siu Nim Tau, Cham Kiu e Biu Ji.

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